Eu Conheço Alguém Que Morreu de Tanto Amar!

Eu te amo...

Mas, melhor do que eu possa querer amar você, Deus te ama ainda de uma maneira muito melhor do que a minha, pois te ama + do que o amor que eu, pessoalmente possa crer ser o + perfeito!

Ele entregou Seu Filho a ti e a mim por amor, e para isso, se entregou, morrendo por todos os nossos pecados, grandes e pequenos.

Você não precisa de + nenhum acessório para querer a Ele, em sua vida:basta reconhecer que,como todo ser humano,necessita desse amor que Ele lhe ofertou,na cruz.

E, a partir desta simples atitude,você será como eu sou: amada com um amor + do que perfeito!


Um pouquinho de mim para ti...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Espera uma carta

Agora sei porque não vieste,depois de tanto e tanto te esperar. Cheguei a supor que não existisses. Imaginei,às vezes,que foras ter a outra porta,e alguém se beneficiava de ti. Era o equívoco mais consolador,afinal não se perderia a mensagem. Eu indagava os rostos,pesquisava neles a furtiva iluminação,o traço de beatitude,que indicasse conhecimento do teu segredo. Não distinguia bem,as pessoas se afastavam ou escondiam tão finamente tua posse que a dúvida ficava enrodilhada à minha esquerda. O desengano,à direita. E não havia combate entre eles. Coexistiam,mais a cabeçuda esperança.
Todas as manhãs te aguardava. Ao meio-dia já era certo que não vinhas. O resto do dia era neutro. Restava amanhã. E outro amanhã. E depois. Repousava,aos domingos,desta expectação sem limites. Via-te aparecer em sonho,e fechava os olhos como quem soubesse que não te merecia,ou quisesse retardar o instante de comunicação. Esperar era quase receber. Cismava que te recebera havia longos anos,mas era menino e sem condições de avaliar-te,ou vieras em código,e eu,sem possuir a chave,me quedava mirando-te e remirando-te como à estrela intocável.
Muitas vezes recebi durante esse prazo. Não se confundiam contigo. Traziam palavras boas ou más,indiferentes,quaisquer. E o receio de que entre elas rolasses perdida,fosses considerada insignificante? Desprezada,como impresso de propaganda?
As dádivas que devias trazer-me,quais seriam? Nunca imaginei ao certo o que de grande me reservavas. Quem sabe se a riqueza,de que eu tinha medo,mas revestida de doçura e imaginação,a resumir os prazeres do despojamento? Ou a glória espiritual,sem seus gêmeos,a jactância e o orgulho? Ou o amor-e esta só palavra me fazia curvar a cabeça,ao peso de sua magnificência. Eu não escolhia nem hesitava. O dom seria perfeito,sem proporção com o ente gratificado. E infinito,a envolver minha finitude.
Mas agora sei porque não vieste nem virás. Estavas entre inúmeras companheiras,jogadas em sacos espessos,por sua vez afundados num subterrâneo. E dizer que todos os dias passei por tuas proximidades,até mesmo em cima de ti,sem discernir tua pulsação. Servidores infiéis ou cansados foram acumulando debaixo do chão o monte de notícias,lamentos,beijos,ameaças,faturas,ordens,saudades,sobre o qual os caminhões passavam,passavam os governos e suas reformas. Escondida,esmagada no monte,sem sombra de movimento,lá te deixaste jazer,enquanto que eu conjecturava mil formas de extravio e omissão. Cheguei a desconfiar de ti,a crer que zombavas de minha urgência,distraindo-te por itinerários loucos. Suspeitei que te recusavas,quase desejei que fogo ou água te liquidassem,já que te esquivavas à tua missão.
E foi o que aconteceu,sem dúvida. A umidade e os ratos de esgoto te consumiram. Restam -se restarem-fragmentos que nada contam ou explicam,senão que uma carta maravilhosa,esperada desde a eternidade,por mim ou por outro qualquer homem igual a mim, foi escrita em alguma parte do mundo e não chegou a destino,porque o Correio a jogou fora,entre trezentas mil ou trezentos milhões de cartas.

(Carlos Drummond de Andrade)